terça-feira, 5 de abril de 2016

Na Sala do Coringa: Psychotic Eyes





Estamos de volta com a seção "Na Sala do Coringa", que nada mais é do que Manu "Joker" (Uganga/Underdose) entrevistando uma banda que não faz parte da cena local de Uberaba.

Manu

Nessa postagem a banda entrevistada é a banda paulista Psychotic Eyes que também faz parte do cast da Som do Darma, então tá tudo em casa.
Bora lá Manu e Psychotic Eyes:


Manu: Salve pessoal! Acompanho o trabalho do Psychotic Eyes há algum tempo, mas gostaria que falassem um pouco sobre o início da banda e a proposta de vocês pros leitores do Blog Rock Uberaba. 

Dimitri Brandi: A banda começou em 1999, bastante tempo atrás. É engraçado, eu vejo fotos antigas e me surpreendo de como éramos moleques no começo. Mas eu me achava velho. Lembro da ansiedade por arrumar logo uma banda, compor, gravar, tocar ao vivo. Eu pensava “putz, o Toni Iommi formou o Black Sabbath com 21 anos, eu já sou mais velho que ele e não tenho minha banda ainda”. O núcleo do Psychotic Eyes sempre fomos eu e o Alexandre Tamarossi, baterista, que conheci por causa de um anúncio na revista Rock Brigade. Tínhamos as mesmas referências musicais na época, Death, Slayer, Kreator. Com o tempo o som foi sendo moldado, atingimos nossa identidade. Gravamos duas demos e dois álbuns até que o Alexandre anunciou que iria sair. Agora estamos eu e o Douglas Gatuso, baixista, gravando um disco acústico e procurando desesperadamente por um baterista.


Manu: Apesar da base do PY ser o death e o thrash metal vocês têm uma sonoridade bem única com referências a jazz e música brasileira em suas composições. Quais as principais referências e como vocês chegaram a essa fórmula sonora?

Dimitri: Foi meio que por acidente. Não foi algo predeterminado. Quando comecei a tocar guitarra, minhas referências eram Iron Maiden, Black Sabbath, Kiss e outras bandas de metal tradicional. O gosto pelo metal extremo veio depois, com o thrash e bandas de death metal mais técnicas como Carcass e Death. O meu interesse pela música brasileira veio primeiro como curiosidade. Quando eu estava gravando os solos do primeiro CD, estudei muito harmonia, e apareceram aqueles acordes estranhos de bossa nova, que são um guia bem interessante para quem quer aprender a mudar de tom dentro de uma música sem soar artificial. Incorporei aqueles elementos nas minhas composições. Na mesma época o Alexandre estava dando aula de bateria em alguns projetos sociais em Guarulhos e começou a pesquisar ritmos brasileiros. Começamos a adicionar essas coisas na nossa música, sempre num contexto pesado. Uso harmonias de bossa nova e ele colocava uma virada de ritmo brasileiro no meio dos blasting beats. 



Manu: Vocês já passaram por algumas mudanças de formação e sei que isso acaba atrapalhando um pouco no corre das bandas. Comentem sobre o line-up atual e sobre essas mudanças.

Dimitri: O lineup atual somos somente eu (vocal e guitarra) e o Douglas (baixo, vocal e violão). Estamos gravando um disco acústico no formato dois violões, pela falta de baterista. Se alguém estiver interessado, entre em contato!


Manu: Em 2007 vcs lançaram seu primeiro álbum, auto-intitulado, como foi a recepção do público nacional e no exterior? Por aqui vi excelentes resenhas nos meios de comunicação.

Dimitri: As resenhas foram excelentes mesmo, o que nos surpreendeu bastante. O primeiro álbum foi lançado em 2006 e nos proporcionou excelentes momentos, como o de tocar ao lado de Chaosfear, Threat e Dr. Sin numa das seletivas do Wacken Metal Battle. Foi também com esse disco que começamos a aparecer na imprensa, ele foi bem avaliado em todas as revistas de metal que havia na época: Rock Brigade, Roadie Crew, Valhalla e Comando Rock.




Manu: Em 2011 veio o novo álbum “I Only Smile Behind The Mask” com uma produção bem superior a cargo do renomado produtor canadense Jean François Dagenais, também guitarrista do Kataklysm, uma das maiores bandas do death metal contemporâneo. Comente sobre esse álbum.

Dimitri: Esse é o trabalho que mais me orgulha até hoje. Infelizmente não foi lançado físico, mas está disponível no Spotify e nas plataformas de download tipo iTunes e Bandcamp. Estávamos sozinhos, eu e o Alexandre, então chamamos o Rodrigo Nunes (ex-Drowned e Eminence) para gravar o baixo. Fizemos tudo à distância. Eu morava em Campinas, o Alexandre em Guarulhos e o Rodrigo em Belo Horizonte, com o J.F. Dagenais supervisionando tudo via Skype lá do Canadá. Infelizmente não pude ir pra lá acompanhar a mixagem, mas a experiência do cara e a empolgação dele com o projeto resultaram numa produção fantástica. Eu fiquei sinceramente emocionado quando ouvi a sonoridade final. É nesse disco que considero que estão as nossas melhores composições, como Welcome Fatality, Life, Dying Grief e The Girl. Nele também contamos com a participação especial de um dos maiores artistas brasileiros, que é o ciberpajé Edgar Franco, que fez vozes adicionais e de robô na faixa “The Humachine”.



Manu: Vocês têm fortes referências a literatura em suas letras, que vão muito além dos clichês do metal. Dimitri o que te inspira na hora de escrever?

Dimitri:Obrigado pelas palavras! Considero que são extremamente elogiosas! Minha maior inspiração hoje são os sentimentos humanos, a vida difícil das sociedades humanas neste momento de crise de todas as instituições. A literatura é sempre uma referência, mas gosto de extrair da arte aquilo que o ser humano tem de introspectivo, as emoções conflitantes e as dores da vida. No começo eu curtia escrever sobre histórias de terror, guerras, esses clichês do metal que você citou. Com o tempo fui me interessando por temas mais emotivos e introspectivos, como a morte, o amor, a inveja, coisas assim.


Manu: Em “I Only Smile Behind The Mask” vocês fecham o cd com uma versão de “Geni e o Zepelim” de Chico Buarque onde apesar de manterem a letra original mudaram totalmente o arranjo. De quem foi essa idéia que, diga-se de passagem, ficou bem interessante?


Dimitri: Opa, muito obrigado, novamente! Eu mudei a letra também. Escrevi uma letra em inglês, contando a mesma história, mas não é uma versão ou tradução da letra do Chico Buarque. Eu tive a ideia enquanto ouvia uma música do Blaze, e reparei que a harmonia era a mesma da Geni. Pensei que a composição do Chico Buarque tinha tudo para ser uma balada de metal. Harmonia menor, depressiva, com um refrão agressivo. Bem o clichê de balada de metal, tipo “Welcome Home” do Metallica ou “Wasting Love” do Iron Maiden. Comecei a “destraduzir” a letra, escrevendo uma versão em inglês, e fiquei impressionado com a agressividade da história e das palavras. Aquilo casava perfeitamente com uma música do Psychotic Eyes. Fizemos um arranjo brutal e épico, em que o Alexandre mostrou uma incrível composição da bateria, que vai praticamente contando a história e mostrando os sentimentos da personagem. No final, acho que essa é a melhor composição que fizemos, algo que muito me orgulha.



Manu: Após a tour do segundo álbum o baterista Alexandre Tamarossi se afastou da banda devido a uma crise de bursite ocasionando seu desligamento. Vocês já têm alguém para ocupar essa vaga?

Dimitri: Não! Procuramos desesperadamente! Interessados entrem em contato!


Manu: Nesse período sem baterista vocês fizeram alguns shows em formato acústico e como os resultados foram muito bons, resolveram registrar essa ideia no que será o próximo cd da banda, o acústico de death metal, algo muito inovador, “Olhos Vermelhos”. As gravações já começaram? Dêem mais detalhes.

Dimitri: Já começamos a gravação. Serão cinco faixas. Além do formato inovador, death metal acústico, com dois violões e dois malucos berrando gutural, temos uma outra inovação, que serão as letras em português. Tudo começou com uma provocação do poeta Luiz Carlos Barata, numa entrevista que dei pra ele quando ele apresentava um programa de rádio. Ele perguntou porque as bandas brasileiras de metal não cantavam em português. Em vez de dar uma resposta padrão, superficial ou clichê, eu preferi confessar a minha ignorância e perplexidade, admitindo que não tinha a menor ideia. Acho que ele também se sentiu provocado e escreveu um poema bem death metal, intitulado “olhos vermelhos”, que casou como uma luva para uma composição do Psychotic Eyes. Ela será a faixa título do disco acústico.



Manu: Pessoal, é isso, o Blog Rock Uberaba agradece pela entrevista e deixa o espaço para as considerações finais:

Dimitri: Eu que agradeço a grande oportunidade da entrevista! Rock Uberaba na veia! Grande abraço meu brother.


Mais Informações:

Um comentário: