sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Uganga na revista Trip

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Uganga na revista Trip de Fevereiro de 2011



Ronaldo Lemos que já foi curador do TIM Festival entre 2005 e 2008. Fez parte do juri do Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia em 2009. Escreve semanalmente para a Folha de São Paulo e mensalmente para a Revista Trip, na edição de nº 196 após sua passagem na cidade natal (Araguari) cita a banda Uganga em sua matéria, confiram:



                  Interiornet

                  Até algum tempo atrás, nascer no interior significava viver no isolamento informacional


                                   Até há alguns anos, nascer em uma cidade do interior do Brasil era um limite. Significava viver no isolamento informacional. Algumas redes improvisadas até apareciam, como fanzineiros aqui e ali, mas não eram suficientes. Discos, filmes e livros chegavam tarde demais. Para participar pra valer das conversas sobre cultura no Brasil e no mundo era preciso “ir para a capital”.

                                   Com a internet, tudo isso mudou. O fenômeno aparece no ótimo filme Os famosos e os duendes da morte, de Esmir Filho, que mostra um jovem do interior do Rio Grande do Sul isolado, mas com angústias conectadas ao mundo. Tal como ele, as cidades do interior estão cada vez mais online, seja por lan houses ou pela banda larga que vem chegando devagar. Só que o dilema dos jovens interioranos agora é outro. Ele vem do paradoxo entre a chegada da informação e a facilidade de produção, em contraste com a sensação de isolamento geográfico que permanece.

                                      Já senti isso na pele. Vi de perto como a chegada da TV a cabo mudou o destino da minha geração no interior de Minas Gerais no começo da década de 90. E tenho certeza de que a internet faz do interior a novíssima fronteira cultural do país. O que falta é articulação: novos canais de visibilidade, apoio das prefeituras e integração com universidades públicas e particulares que deveriam abrir seus espaços para o novo. Além disso, caçadores de tendência de toda parte poderiam dedicar mais tempo a garimpar o que está acontecendo fora das capitais.


Uganga em Berlim / Alemanha (2010)


                                  Alguns exemplos pessoais: na virada do ano voltei à minha cidade natal e pude ver o surgimento de um evento como o Rerigueri Festival. Descobri uma nova geração de bandas, como o U-Ganga, que rapidamente tornou-se minha banda de metal favorita (junto com o The Mechanics, de Goiânia). Além de um grande número de bandas novas como Anil, The Random Colours e outras.

    Peguei a viola, não fui viajar
                                 

                                O potencial dessa amostra materializa-se em iniciativas como o já “tradicional” Circuito Fora do Eixo: uma rede de casas de show e festivais que se espalha por 25 Estados do país. Vale mencionar também casos de sucesso como o do desenhista Maurício Ricardo, que, de Uberlândia, fala para todo o país pelo site charges.com.br. Em outros tempos precisaria estar no Rio ou em SP. Hoje não. É também empolgante saber que existem cenas ultraunderground de quadrinhos, como a MRD Editora (bit.ly/eXRkv3), que publica autores como Watson Portela, Soter Bentes e Beto Martins.










*Ronaldo Lemos, 34, é diretor do Centro de Tecnologia da FGV-RJ e fundador do site http://www.overmundo.com.br/. Seu e-mail é rlemos@trip.com.br


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Granvizir + DCV

É sábado 19/02, rock no Favela 



                                     Aê pessoal, beleza? Como vocês sabem fechamos muito bem o ano de 2010, com muito som aqui na terra do Zebu, mas sinceramente, em janeiro foi muito fraco, teve uma festa ou outra naquele local que nem tô afim de falar o nome, e também porque nem tomo café já tem um tempo, mas já vou aqui parabenizando minha prima Débora e minha amiga Lucimara pelos aniversários e pela festa, são pessoas que eu gosto muito e por manter a minha palavra não poderei encarnar o Chuck Berry no sábado.


                                              Em compensação estou postando aqui o flyer  que representa a abertura das festas de rock na minha opinião em Uberaba no ano de 2011. Mais uma vez salve o bar Favela Chic que está cedendo o espaço para que as bandas independentes mostrem o seu trabalho.



GRANVIZIR






                                               

  

                                                                       DCV

                                     Granvizir e DCV quebrando tudo no bar Favela dia 19/02, ficou muito legal esse video da banda Granvizir, impressionante como a música Back in Black cai bem mesmo em qualquer hora, eu já perdi a conta de quantas vezes já ouvi na vida.

                                     Esses dias lembrei de um video da banda DCV com a formação clássica de quinteto, em homenagem ao meu amigo Líbio (RIP), baixista, deixo vcs com esse registro referente ao 1º encontro de Novas Tendências:

                      






terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Podres de Utopia / Kaostrofobia / Luciano Bitencourt

 
Luciano Bitencourt em 1996




                                 Redator publicitário, formado em Jornalismo, especializado em Filosofia. São Paulo, Brasil. Ex-integrante das bandas uberabenses Podres de Utopia / Kaostrofobia / Os Donátilas Rosário / Larica Existencial / Seu Juvenal. Sid como é  conhecido, foi um dos primeiros integrantes do movimento punk uberabense e colaborou como compositor em todas essas cinco bandas.


                                 Deixo vocês com as palavras de Luciano que elaborou um texto com um conteúdo que na minha visão é de grande importância pra história do rock uberabense, eu conheci o Sid na Rarus Discos no início da década de 90, e o papo foi de Tom Zé a D.R.I., em 96 ele colava nos ensaios dos Neurônios no gueto do Clóvis/Cabelo/Camaleão e a gente trombava naquela época do mangue beat, rolou o lance do Movimento da Geração Desemboque junto com a banda Seu Juvenal, enfim, tamo em casa e ele caprichou como colaborador nessa postagem pra vocês:






                                                            Podres de Utopia





                                   "Antes dos anos de 1990, até aonde me lembro, o rock em Uberaba podia ser dividido da seguinte maneira: as bandas pops (com integrantes que tocavam em outras bandas, geralmente voltadas para bailes), os grupos de hard rock e/ou heavy metal (assim como já foi publicado aqui no blog), e uma ou outra iniciativa que surgia e morria sem maior expressão.



                                 Em 1987, três anos aproximadamente depois de retornar à morar em Uberaba, aconteceu um show com várias bandas, num palco improvisado na carroceria de um Mercedão (1113). A estrutura foi montada na avenida Leopoldino de Oliveira, nas proximidades do Shopping Generoso Lenza – dali em diante, era quase tudo terra e mato. Duas bandas foram marcantes: a do vocalista Cabecinha (uma figura muito popular em Uberaba que veio sofrer problemas mais tarde com drogas [há notícia de que reabilitou-se]), que tocou Camisa de Vênus; e uma banda feminina, cuja guitarrista era a Ana Paula Dantas, que hoje trabalha na ABCZ. As garotas tocaram muita coisa boa, inclusive, um cover do The Cure. 



                                     Naquele dia, aos mal-completados 12 anos, voltei para casa decidido a montar uma banda de rock. Estudante do Colégio Nossa Senhora das Graças, estava no mesmo lugar que o Robson Pimenta (Rarus Discos) e o Paulinho Trida, o Gé (DCV) passou por lá, o Alex (filho do radialista João Batista) também, entre outros. Havia uma turma no Colégio que era muito antenada na cultura dos Anos 80 e do rock'n'roll em geral. Era um tempo em que a galera calçava tênis Redley ou All Star, vestia calça jeans furada no joelho e camiseta Hering com estampa de banda, lia a revista Chiclete Com Banana e fazia altas festas. O Robson Pimenta organizou toda essa gente e montou uma turma (o que era moda na época): a Vírus 27.


                                Pode até parecer estranho, um grupo de moleques do Colégio com o nome de uma banda de carecas, mas, em 1987, ainda não havia diferenciação quanto a esses detalhes dos movimentos, ou seja: isso é punk, aquilo é skinhead. Tudo era considerado uma coisa só. A garotada chamava tudo “punk”. E, na verdade, era tudo diversão, não havia qualquer engajamento no sentido político. Essa turma realizou festas, viajou para shows em outras cidades, enfim, “quebrou o pau”. Nossa identificação era uma camiseta com o “A” de anarquia no peito e a capa do disco “Parasitas Obrigatórios” nas costas. O Robson é quem cuidava da impressão e distribuição do “uniforme”. Em um show do Titãs, em Uberlândia, o primeiro no interior com a turnê “Jesus não dentes no país dos banguelas”, uma ida ao banheiro quase custou o xadrez para esse que vos escreve. Eu usava uma corrente com cadeado no pescoço, à la Sid Vicious. Tomei um pescoção dos policiais e, graças à Deus, estava com a chave do cadeado no bolso, se não tinha me fodido.


                              Nessa “vibe” aparecem o Lukão e o Misac. O Guilherme Diamantino já era muito amigo do Robson; o Léo Punk – que tinha cara de mau e era encrenqueiro pra cacete! – não se enturmou de primeira. O Lukão e o Misac eram os punks “Tropa Suicida”; o Guilherme, o punk “The Clash”; e o Léo, o punk “The Cramps”.


Guilherme Diamantino (DCV)



                            Falar de mim é complicado, mas, somado a tudo isso, eu trouxe influências de sons como Kraftwerk, Gueto, Devo, PIL, Villa-Lobos, Peter Tosh etc., que eram artistas que eu já escutava (muitos deles com a turma Vírus 27).



                          Tudo isso, a ida ao show na Leopoldino e, depois, ao Titãs, aconteceu num curto espaço de tempo. Na virada de 1987 para 1988, acontece uma conversa com o Misac (guitarra) e o Gé (bateria) e, no ano seguinte, os primeiros ensaios do Podres de Utopia, que durou uns seis meses. O grupo não contava com baixista e o Misac lutou durante esse tempo todo contra um pedal wah-wah.


                         O repertório do Podres de Utopia, que acrescentou “Podres” depois que ficou sabendo que uma banda em São Paulo chamava-se Utopia (a primeira banda do Mamonas, será?), era formado por apenas duas composições próprias, dois covers do Garotos Podres (Johnny e Vou Fazer Cocô), um do Espermogramix (Trabalhadores Brasileiros) e outro do Trashman (Surfin' Bird). Os ensaios aconteciam no cômodo da casa do Gé onde funcionava a boutique da mãe dele. Tínhamos um fã que testemunhou quase todos os ensaios: o Pedro Binuto.



                           Eu e o Misac éramos loucos por uma apresentação, o que nunca aconteceu, pois o Gé sempre arrumava uma desculpa para não tocar (fez bem, a banda era muito ruim, seria uma vergonha mesmo!). Em seguida, ele deixou a bateria definitivamente e a banda acabou.

Notas:

1 – O Misac descia à pé e com a guitarra nas mãos do bairro Santa Marta até a minha casa, no Mercês. Aí atravessávamos a cidade, também à pé, até o jardim Induberaba, onde o Gé morava.

2 – As primeiras caixas de som que utilizamos foram emprestadas pelo Claudão (ex-Nuts, Acidogroove...), que era muito amigo do Gé; e outra coisa interessante foi o projeto que o Guilherme me chamou pra fazer: Barulhos Dilacerantes. Selecionamos mais de uma dezenas de músicas punks e transformamos tudo em grindcore, gritando apenas o nome da música ou a frase principal da letra e tocando a música em 3 ou 4 segundos. Ficou um na batera e outro na guitarra e vocal."

Discografia Básica:

1 – Never Mind the Bollocks (Sex Pistols)
2 – Rocket to Russia (Ramones)
3 – London Calling (The Clash)
4 – Guilty (Vibrators)
5 – Standing on the Beach / The Singles (The Cure)
6 – Histórias de Sexo e Violência (Replicantes)
7 – Vítimas do Milagre (Detrito Federal)
8 – Mais Podres do que Nunca (Garotos Podres)
9 – Parasitas Obrigatórios (Vírus 27)
10 – Nós Vamos Invadir sua Praia (Ultraje a Rigor) 




Luciano Bitencourt com a banda Kaostrofobia




                                                                    Kaostrofobia




                                      "No final de 1988, surge então a Kaostrofobia, com o Lukão na bateria. Mais uma vez sem baixista, é claro. Pois bem, a história da Kaostrofobia o Tito já publicou aqui. E se tem uma coisa que pode ser reforçado em relação a essa banda é que esse foi certamente o período mais intenso (e transtornado) da  vida de seus principais integrantes. Talvez pela época, um momento tomado por aquela ferrenha crise econômica e política que desestabilizou e arruinou o dia a dia de muita gente. De uma forma ou de outra, esse quadro refletiu bastante naquela geração de adolescentes. Não é à toa que o lema da garotada era o “No Future”.


                                 A Kaostrofobia foi uma banda casca-grossa, que fez diversas inimizades, arrumou briga e acabou com muita festa. Era o verdadeiro terrorismo anti-musical. Pode-se dizer que éramos um Crust Experimental, porque misturávamos tudo o que podíamos com o extremo hardcore. A idéia era ser o mais barulhento e nervoso possível. A razão de existir enquanto grupo era ser uma banda punk detestada pelos próprios punks, em razão de ser punk demais. Com isso, os primeiros a torcer o nariz foi a turma do “Sex Pistols e Ramones”. Tais bandas eram consideradas comerciais por serem aceitas em qualquer meio. Ou seja, tinha muito playboy que era fã desses punk rocks. Quando eles iam assistir a Kaostrofobia pensando ouvir “Anarchy in the UK”– e toda vez anunciávamos essa música, sem nunca tocá-la –, chegavam lá e, em poucos minutos, davam meia-volta.



                              Depois foi a vez da turma do grindcore, que se identificou com o som. Aí, para provocar, em 1989, a Kaostrofobia começou a defender de forma escancarada o uso de substâncias ilícitas – coisa que eles eram totalmente contrários. No meio dos shows, os integrantes pintavam e bordavam no palco. E não ficava por aí. Essa turma levava o “visual” muito à sério, por isso a banda se vestia num estilo composto por chinelos ou botinas, bermuda de surf e camiseta de bandas hardcore. Às vezes, rolava também um chapéu de palha e um terno pra ficar bem brega mesmo.

                                    A coisa foi tomando um rumo que o Misac um belo dia gravou vários minutos de uma folia de reis. O tempo, uns 14 ou 15 minutos, era exatamente o que durava uma apresentação. Então, nos shows, a Kaostrofobia colocava a fita de background (com o som na mesma altura dos instrumentos). Tocavam o noisecore por cima, mas como as músicas tinham de 5 a 10 segundos, os intervalos eram constantes, bem como a folia de reis comendo solta, onde a banda parava somente pra polemizar novamente. O show da Kaostrofobia era um dos barulhos mais insuportáveis que existia. Os técnicos de som da época se recusavam a ligar a aparelhagem quando nos viam subindo ao palco. Ninguém aguentava também a fumaça.


                               Em 1992, eu vou embora para São Paulo, continuo compondo sons, ideias e ações, tocando em nossos encontros, mas a banda foi perdendo fôlego. Volto para Uberaba em 1994, retomo a Kaostrofobia com o John, hoje advogado na Bahia, na bateria, e o Sandrinho da Capitinga novamente no baixo. Foi uma das melhores fases “técnicas” da banda, pois pela primeira vez foi possível realmente ouvir os sons de verdade, entender o que a banda fazia (ou “não toacava”), pois o John e o Sandro “levavam” as músicas perfeitamente. Isso durou pouco, logo o Lukão voltou para as baquetas, eu fui para o baixo e vocal, e a parafernália ressuscita-se com todo aquele espírito anárquico. Acontece que nesse meio tempo os metaleiros do “Iron” tinham virado death metal, os death metal/grind tinham virado skinheads e os skinheads, assim como os outros movimentos, queriam nos socar. Viramos alvo. Tudo perdeu a graça, ficou sério demais, e a banda acabou.

                              A Kaostrofobia foi uma banda punk muito fora de seu tempo. Tem uma banda norte-americana atual que lembra muito aquele espírito, chama-se Lightning Bolt. Na fase final da Kaostrofobia, em 1994, as letras eram longas e a banda reescrevia tudo transformando três palavras numa frase e depois construindo uma frase com essas novas palavras. Assim, as letras ficavam curtas e, se ninguém entendia nada com as palavras normais, com essas reconstruções...

                     Gravamos duas demos no esquema gravador com um canal aberto para todos os instrumentos. A primeira – com 15 músicas aproximadamente – tinha pouco mais de 3 minutos e a segunda – com cerca de 30 sons – quase 7 minutos e chamava-se “Música Para Quem Não Gosta de Música”. Contudo, quando a banda acabou, muita composição nova ficou na gaveta.

                            Eu deixei o grupo em 1994, depois da última apresentação na antiga U.E.U. Na verdade, eu sempre curti o hardcore crust, mas eu estava compondo sons que não tinham muito a ver com essa sonoridade e queira explorar essas novas músicas."



Notas:


1 – A foto aqui no blog no protesto do 7 de setembro é uma das tantas ações que fazíamos. Nós tínhamos uma agenda, com o 6 de agosto (Bomba de Hiroshima), 3 de outubro (Eleições) e outros.

Lukão, Luciano, John, Peron, Misac


2 – Numa época que não havia internet, o forte eram as correspondências. Eu era o responsável por  comunicar com outras bandas e canais, e o fazia através de cartas, reutilizando selos e enviando o rolo de fita cassete desmontado para não pagar “carta registrada”. Tínhamos contatos no Brasil e no exterior.

3 – Nosso maior parceiro foi um amigo chamado Júnior e que trabalhou na Biblos, uma loja de cópias e antigo sebo, que funcionava na esquina da rua Vigário Silva. Todos os xerox de panfletos, cartazes, fanzines, layouts, tudo, era feito lá.

Discografia Básica:

1 – Black God (Terveet Kadet)
2 – The Vikings Are Coming (Coletânea)
3 – Vaterland (Vorkrigsjugend)
4 – Dirty Rotten Imbeciles (D.R.I.)
5 – Let's Start a War (Exploited)
6 – Ataque Sonoro (Coletânea)
7 – Crucificados Pelo Sistema (Ratos de Porão)
8 – Botas, Fuzis e Capacetes (Olho Seco)
9 – Tropa Suicida/Kaos 64 (Split)
10 – Convulsões e Distúrbios da Consciência (Atack Epíléptico)




                                      As bandas Os Donátilas Rosário e Larica Existencial terão suas postagens aqui no blog e Luciano voltará a falar sobre essas bandas, como eu já disse aqui vi um show da banda Kaostrofobia logo quando cheguei em Uberaba e foi um dos shows mais punks que já vi na vida, o Manu (Uganga) no fanzine Páginas Vazias também relata um show deles no lendário Circo do Povo que ficou pra história, e agora nas palavras do próprio Sid, a gente conheceu um pouco mais dessa que foi a banda mais punk e escrota que já tivemos por aqui na minha opinião.




                                        Segue um video da banda Os Donátilas Rosário sem o Renato (Seu Juvenal) na batera, com o Manu (Uganga) nas baquetas, tocando a música "Dora Doida" na Bat Cave no ano de 1995. Os demais integrantes na banda constando no video são: Zacca (guitarra) / Hilder (vocal) e Luciano "Sid" (baixo)









                                          Nesse meio tempo, rolou as eleições e saí candidato a vereador. Acontece que aos 18/19 anos eu fui trabalhar como repórter do Jornal de Uberaba e, apesar de estudar Jornalismo, eu não tinha a mínima noção do que era isso na prática. Numa conversa com um amigo, ele me disse que seria muito importante que eu tivesse um partido, pois uma vez posicionado politicamente eu teria uma identidade e conseguiria “fontes”. O tempo foi passando e não tive vontade alguma de me filiar a qualquer partido, no entanto meu amigo tinha razão: eu não conseguia arrumar as tais “fontes”.

                                          Então, decidi entrar no partido que eu considerava o “menos pior” e assim filiei-me ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). É engraçado porque, depois disso, fiquei reconhecido como uma pessoa de “esquerda” e, então, arrumei um monte de “fontes” e pude finalmente trabalhar em paz como repórter. Contudo, eu não contava que um dia o advogado Túlio Reis, outrora o Túlio do PT, fosse sair candidato a prefeito numa disputa entre PFL, PMDB e o PT, em 1996. Mas ele saiu candidato e a tal coligação contemplava o PSB, pois o vice do Túlio era o também advogado Hélio Borges.

                                     Pois bem, com o Hélio, que era do PSB, de vice abriram-se cerca de 40 vagas para candidatos a vereador pelo partido. O curioso é que o partido tinha apenas dois filiados “atuantes” na época: o Hélio e eu. Sendo assim, tive que assumir a candidatura para que não houvesse uma brecha como essa durante a campanha.

                                       Meu número era 40.633. Os três primeiros eram básicos para todos os candidatos do partido, então os dois últimos eram os mais trabalhados. Caramba, sendo eles o “33”, não deu outra mandei o slogan “40.633, a Salvação!”. Naquele momento, as igrejas evangélicas cresciam absurdamente no Brasil e por isso utilizei a expressão. Na foto para o santinho, eu penteei o cabelo todo para trás e fechei os botões da camisa até o pescoço. Enfim, todo mundo me conhecia, era um repórter popular na cidade e ficou totalmente caracterizada a minha crítica (à política, e não à religião em si). Hilário era conversar com as pessoas que me abordavam na rua para pedir coisas. Com o horário eleitoral na tv, isso virou um inferno.

                                     Aliás, o que um anarquista faz quando se candidata? Orienta todo mundo a votar nulo, é lógico! Foi isso que eu fiz, mas ainda consegui quase 100 votos. 






Aê Sid toda vez que vejo esse panfleto lembro do Cabelo (RIP) "ex vocalista do Seu Juvenal" no muquifo do Satanás zuando com esse panfleto no microondas, você lembra disso?




1996 da esq. pra dir.: Luciano Bitencourt / Douglas Camaleão / Emanuelle / Ernesto "Cabelo" (RIP) / Flávia / Edinho "Zacca" / Adriano Tito / Tito / Juliano (RIP)







                                              A minha história com as bandas de rock em Uberaba acaba em 1997. Eu tive um dilema: ou seguia de maneira séria o caminho da música, aprendendo a tocar e me profissionalizando, ou tomava outros rumos. Adotei a segunda opção. Na época, eu estava muito chateado com os amigos de bandas de uma forma em geral. Eu acreditava que podíamos ir além, ocupar espaço nos grandes centros ou em outras cenas independentes, lançar singles, cds ou lps, porque tudo dependia de maior organização. Sempre correspondi com gente de outras cidades e países, sempre buscava novidade em outros meios, enfim, eu fazia de tudo para que a cena independente ou alternativa de Uberaba acontecesse. Naquele momento, eu senti uma certa ingratidão dos amigos, pois o simples lançamento de um single com três músicas, por exemplo, era algo que não conseguíamos realizar. Qualquer ação era motivo para quebra-pau. Lógico, tudo era efeito da idade e não passou de uma paranoia besta mesmo.



                                        O problema é que eu tinha uma opinião diferente também em relação a diversas bandas com essa história de cobrar para tocar. Sendo desconhecidos, nós tínhamos mais era que bancar as viagens e aproveitar qualquer buraco que surgisse. Outro ponto que eu não engolia de jeito nenhum era essa competição infantil entre as bandas de Uberaba, essa coisa de se considerar “a melhor” banda da cidade. Tudo isso – necessidade de se profissionalizar, falta de maturidade da galera e desavenças ideológicas – me levou a desencanar do rock'n'roll, apesar de ter ainda me arriscado, com o Léo Punk, na área de promoção ao organizar a primeira apresentação do Mundo Livre S/A, em Uberaba. 


                                     No entanto, o curioso é que em 1997, dez anos depois de assistir àquela apresentação no Mercedão, na Leopoldino de Oliveira, eu concluí que, muito melhor do que tocar ou promover bandas, bom mesmo era simplesmente assisti-las.

                                                           






                                                         Considerações Finais




                          Hoje, quando navego no blog do Tito, da Letícia e de tantos outros, fico impressionado com tanta coisa rolando. Sem saudosismo, já sendo, mesmo com toda a problemática que as bandas enfrentam hoje em dia, isso tudo não é a metade do que vivenciamos em décadas passadas. Uma época em que equipamento era muito caro, espaço para tocar não existia, apresentações se resumiam em público de no máximo 15 pessoas, estúdios não gravavam bandas de “rock pesado”, enfim, era a lama total. Não bastasse, como já relatado aqui, haviam tretas entre os amigos e com gente de fora. Isso sem falar no preconceito com o tal “roqueiro”.


                                       Atualmente, no que diz respeito à internet, por exemplo, considero ser dispensável emitir qualquer opinião. MySpace, LastFm, Facebook e tantos outros recursos, as ferramentas para divulgação, contato e comercialização, são inúmeras.


                                             Com relação à minha trilha sonora, ao olhar para trás, tenho que admitir: o Replicantes foi uma das maiores influências que tive. Na verdade, grande parte do que cheguei a compor foi um cruzamento de Replicantes com outro som (muitas vezes, Itamar Assumpção). O problema era a qualidade dos nossos equipamentos que não permitiam um som melhor produzido nos ensaios.


                                                   Quanto às bandas atuais de Uberaba, tirando os véio (DCV, Uganga, Ácidogroove, Seu Juvenal, AIP e outros), eu conheço muito pouco, mas entre os novos que tenho visto existem muitos legais como o Nekrotério. Vale ressaltar, porém, que um grupo que tem realmente chamado muito a minha atenção é o Elma (mezzo Uberaba, mezzo SP). Eles fazem um som muito original, pesado e diferente. Sempre acompanho as apresentações deles.


                                                   Por fim, eu gostaria de ressaltar que, hoje, 14 anos depois do último acorde, eu acredito ter seguido o caminho certo, pois não teria me dedicado ao rock a exemplo de pessoas como o Edinho, Renato (Two Zaccas) e o Gé, por exemplo, outrora vítimas dos meus desalentos musicais e atualmente grandes amigos. No entanto, um fato é notório: aqui na minha casa a agulha ainda rasga o sulco do vinil! “Chernobyl não foi suficiente...” E ponto.



Luciano, um emaranhado de informações

                                  Quero agradecer ao meu amigo e ex-companheiro na banda Seu Juvenal pelas palavras aqui cedidas e dizer que foi uma honra revê-lo mesmo que rapidamente no favela dia 30/12/2010. Fiquem com a banda Seu Juvenal tocando a música "Bob Robert's", (composição de Luciano Bitencourt), na praia do Jarbinhas em 1999.